quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Deitar fora o veneno senão vai ficar a queimar ainda mais...

Todos nós somos partes de várias coisas: o que queremos, o que pudemos, o que temos e o que perdemos. O que nos rodeia, o que nos ataca, o que nos afecta e o que tentamos atacar, lutar, defender e ignorar. Somos feitos de tantos pedaços que quando a maioria se encontrar desencontrada, sentimo-nos, eu pelo menos sinto-me, assim: fora de mim.

Todos sabemos que Portugal e os portugueses estão na merda, economicamente e socialmente. Ora eu sou portuguesa, vivo em Portugal e estou de baixa... façam as contas. Não sei ainda quando acabará a baixa, não sei se terei ainda o meu posto de trabalho quando ela acabar, não sei ou sei os riscos a que me vou colocar no inicio especialmente estando nós na época das gripes... É muita instabilidade para que pensem ou esperem que eu diga que estou extasiada.

Porque a nível de analises, estão boas. E o resto?
E o económico? E o social? E o emocional? E o familiar?

quantos de vocês sabem que ao contrário de muitos, eu e o meu marido aguentamo-nos sozinhos? Tenho tios e primos fantásticos, mas alem de n ser capaz de pedir ajuda, sei que a vida também não é fácil para eles. O meu Tó tem imensos irmãos, mas a situação é a mesma e a relação nem tem a proximidade para qualquer tipo de apoio.

Quantos de vocês podem dizer que tudo o que teem foi a custa de vocês e apenas vocês? Quantos saíram de casa dos vossos pais apenas com a roupa do corpo e a conta bancaria com saldo negativo não por vossa causa? Quantos de vocês carregam as cicatrizes emocionais que eu carrego e ainda assim conseguem ser funcionais, produtivos, racionais e emocionalmente estáveis (dentro da instabilidade que todos vamos tendo claro..)?

Estou a escrever assim, porque ultimamente tenho visto muitas bocas e tirinhos de merda para o ar sobre "o meu sofrimento" ,  " a minha dor" , "as minhas queixas"... e isso tira-me um pouco do sério. Primeiro irrita-me, depois ignorei e agora estou simplesmente incomodada (ate acabar de escrever isto, depois vou cagar pro assunto).

Ponto 1: sofrimento e dores não se comparam. Sempre disse isso mesmo quando estava a ser picada com duas agulhas para uma sessão de 4h de diálise e continuo a dizer o mesmo. Não se comparam e respeitam-se sempre! Porque cada um de nós tem um grau de tolerância ao sofrimento diferente. Dito isso, há graus de sofrimento que não precisam de ser físicos para serem avassaladores.

Porque é que eu aguentei sempre com a mesma cara todos estes 3 anos e meio? Porque a dor e o cansaço e o mal estar físico é físico, resolve-se, trata-se... sabe-se de onde vem e mal ou bem, o que fazer. Eu isso tolero aguento, cerro os dentes e respiro fundo. Porquê? Porque já senti dores piores.

Sentimentos piores. Solidão. Desamparo. Estar no fundo de um poço sem qualquer ponta de esperança ou apoio, carinho. Alguém alguma vez se sentiu assim? Sem ter mesmo nada nem ninguém? Sabem o que é chorar baixinho com a cabeça enterrada na almofada para que ninguém nos oiça e sejamos novamente castigados e (não queria usar esta palavra mas n encontro outra menos visual) espancados? Conhecem a sensação e o sentimento do que é deambular pelas ruas sozinha e chorar de desespero e tristeza, plenos do conhecimento de que não tem nada nem ninguém que vos possa ajudar, apoiar ou resolver os problemas ou dificuldades?

Sabem?
então por favor não me venham cuspir postas de pescada de sabedoria ou grandeza, porque até andarem pelos caminhos que eu andei em 30 anos de vida, que ainda que não pareçam muito, valem e sinto-os como se fossem 60... não sabem o que é sofrer.

eu sei. Por isso acho eu consigo tolerar bem ou mal a dor física e cerrar os dentes, respirar fundo e aguentar. Porque conheço graus diferentes e impossíveis de tolerar de dor e sofrimento.

Pronto, já deitei fora o veneno que andava a queimar-me por dentro... sinto-me melhor, e agora vou viver a minha vida, que má ou péssima ou boa ou assim assim, é a minha.

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