sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Breve (ya right...) explicação sobre o porquê de...

Porque é q será q eu escrevo e permito a tanta gente que nunca na vida vi ou irei ver ou conhecer, e alguns não poderiam estar mais distantes social, física ou intelectualmente distantes… porque me permito ao julgo de um universo que não me diz nada? Porque me exponho?

Se acham estranho, e só porque há quem ache e sei que há porque eu mesma se não fosse comigo, também acharia estranho… por esses, eu explico.

Ponto 1 e este é meramente egoísta e meu:
Como forma de purga e descarga. Desde pequena que a forma que aprendi e arranjei para ultrapassar adversidades ou momentos de grande saturação emocional psicológica, tudo… é ventar. Mas ainda que pareça, não sou de sair ao murro e pontapé. Sou, acreditem ou não, bastante zen comigo mesma e se me permitirem, com o mundo em geral. Sou uma flower child que simplesmente nunca se ficará sem dar resposta ou troco. Calma mas não mansa, que fique bem entendido.
Aprendi que ou rebentava, ou expunha. E sempre adorei ler e escrever, tenha jeito ou não tenha jeitinho nenhum para a coisa, faço-o com prazer, para mim e por mim. O que me leva ao ponto 2…

Ponto 2 e este é quiçá mais complicado de explicar..
Para ajudar porque eu procurei ajuda e não achei, e não quis nem quero que mais alguém passe por esse sentimento solitário que é o de se sentir sozinha e desamparada no escuro de algo assustador e novo.

Ora vejamos como explico. Deixem-me organizar as ideias… é cedo e está frio, mas ando há 2 dias para escrever isto, é uma daquelas coisas que tem que sair ou vai ficar a empatar cá dentro.

Acredito que conhecimento e compreensão ajudam no processo e aceitação ou até em lidar com o que quer que seja novo ou diferente ou difícil que nos surja pela frente. Sei que há quem prefira esconder a cabeça dentro de um vaso e esperar que a chuva passe, mas a única coisa que consegue é molhar o rabo e apanhar frio porque há pessoas e situações em que a chuva nunca passa realmente.

Ser insuficiente renal, ter uma doença ou sintoma renal, seja ele qual seja, seja alguém que precise de diálise ou não, seja transplantado ou não, tenha nascido com esta condição ou tenha descoberto ou desenvolvido ao longo da vida ou o que seja… é SEMPRE violento.

Ainda hoje sinto ao falar com quem não conhece o significado de nefrologista ou quem perante a questão insuficiente renal responde “devias de beber mais água”..  sinto que mesmo que explique, nunca irão entender verdadeiramente. E aqui não quero que quem se enquadre nestes parâmetros sinta que estou a puxar o escudo especial que os IRC’s usam, porque não estou, mas é uma realidade. E eu aceito-a porque eu mesma antes de saber e compreender, não fazia a mínima ideia do que era diálise, hemodiálise, importância dos rins ou o que seja…

E é normal infelizmente, porque existem milhares de órgãos e células em nós e biliões de possíveis doenças ou sintomas ou patologias e nenhum de nós as reconhece ou conhece intimamente a não ser que se veja confrontado com elas. Mas é normal, é assim que é… ou andávamos todos com um armário acoplado ao cérebro com tanta info.

Dito isto, entrar e viver neste universo é solitário.
Por mais apoio, por mais protegido, por mais carinho que nos seja dado e por maior e melhor comunidade de apoio que nos rodeie.. estamos sempre algures entre viver em terra firme e viver num pedacinho de gelo apenas com espaço para estarmos de pé e pouco mais. Era especialmente esta última imagem a que eu invocava imensas vezes durante o tempo em que fiz diálise. Não me perguntem porquê e prometo que não me surgiu agora por causa do frio que temos tido.. era mesmo esta imagem.

Um pedaço de gelo pequeno, sem possibilidade sequer de nos podermos sentar e descansar, afastados de todos, estilo em alto mar.. e por mais que nos tentássemos aproximar da costa, uma ligeira brisa afastava-nos ainda mais. Uma sensação semi permanente de tristeza, solidão, desamparo e cansaço. E depois passividade. Porque com o cansaço vem a passividade. O acto de quase desistir sem desistir. Aquele timeout para reagrupar algumas forças e aguentar a espera.

Sim, porque esperamos sempre. Nunca ninguém realmente desiste e isso aqui neste texto merece uma lamparina. Sim. Uma lamparina!


Porque por mais que custe, nenhum de nós desiste mesmo. Amigos, digam o que disserem, quem desiste morre e se estas a ler, se eu estou a escrever, se continuas a mexer, falar, ir a diálise, resmungar, gritar com médicos, com amigos, família, etc… é porque ainda vives. Mesmo que chores, mesmo que andes desanimado, estás cá. Não desististe. Desistir é escolher morrer e nenhum de nós escolheu isso. Há infelizmente quem não tenha escolhido e já cá não esteja, mas também a eles e elas ergo esta lamparina, porque NÃO DESISTIRAM! E para mim, isso vale (tapem os olhos os mais chocados mas a palavra que quero usar é mesmo esta!!!) colhões de importância!!!

Sei que o pedaço de gelo é solitário porque ainda me encontro lá ás vezes. Com o transplante e mesmo antes, em algumas alturas de pura calmaria e equilíbrio físico emocional tudo.. parecia que alguém fazia surgir uma pequena ponte de ligação ao continente do meu universo e alguma paz e estabilidade e tempo de descanso surgia. Mas a qualquer momento, fosse porque fosse, voltava para aquele pedacinho de gelo. Fosse eu mesma que lá me colocasse, fosse alguma força que para lá me empurrasse.. voltava ao meu gelito e a ponte desaparecia e a espera, o cansaço, a solidão voltava.

Temos que aprender a usar esse tempo e essas alturas de solidão de forma produtiva, porque a ponte que nos trás o descanso existe. Pode ser rara, pode ser tardia e breve, mas existe e surge. São amigos, são familiares, são aquelas palavras ou aquele gesto, são momentos de carinho de paz, de felicidade, são as coisas mais pequeninas, os actos mais mínimos, mas existem.
Temos que saber que eles existem e compreender que a espera existe e aceitar ambos tal como aceitamos que depois de cada lua vem um sol e continuamente.

Por isso, eu exponho-me e continuarei a fazer porque não me sinto exposta. Sinto que consegui transformar o meu pedacinho de gelo num T0, com algum espaço para que, mesmo sem puder descansar, ter algum conforto e trazer algum conforto ou entendimento a mais pessoas que estejam nos seus pedacinhos de gelo, e quando por acaso nos cruzamos neste mar gigantesco e gelado que se chama insuficiência renal (ou qualquer derivativo de uma patologia nefrótica) podemos acenar, com cuidado para não desequilibrar o pedacito de gelo, e sorrir e quem sabe trocar algumas palavras e sentir, por alguns segundos uma pequena ponte entre dois pedacitos de gelo e descansar.

Prometo deixar de escrever quando desistir. E nunca na minha vida desisti do que quer q seja e nos meus milhares de defeitos, esse não consta garanto.
Podem haver alturas tal como já aconteceu, em que possa escrever mais ou menos, melhor ou pior… mas desistir, jamais.

Por isso, ergo a minha lamparina e quando se sentirem desamparados, solitários e esquecidos, seja no meio de uma má noticia, mau momento, internamento, operação, diálise, o que seja.. lembrem-se que o meu pedacinho de gelo continua a deriva e quem sabe, encontramo-nos. Eu sou a maluquinha com a lamparina, sou fácil de encontrar ;) 


Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigada :)

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...